terça-feira, 31 de maio de 2011

CASAR PARA QUÊ?

Restaurante de hotel de cinco estrelas. Nove da noite. Um casal entra e senta-se numa mesa. Durante toda a noite não dirigem uma única palavra a não ser para fazer pedidos aos empregados. Não olham sequer um para o outro. Dez da noite. Saem do restaurante e dirigem-se à recepção do hotel ao lado um do outro sem falarem.

Ao observar esta cena recordo outro episódio semelhante há cinco anos atrás. Restaurante de hotel de quatro estrelas. Uma família composta por pai, mãe e filha almoçam na esplanada. O pai come algo em frente ao computador. A mãe folheia uma revista de moda enquanto come uma salada. A filha, com os seus dez anos, come um hambúrguer e lê um livro de banda desenhada da Disney. Estão os três juntos cerca de uma hora sem dirigirem uma palavra uns aos outros.

Estes dois episódios fazem-me refletir no significado do casamento em pleno século XXI. O que leva alguém a casar e a constituir família e depois não a desfrutar?

Hoje já dificilmente alguém tem um “casamento arranjado” como os mais velhos relatam que casavam porque ela era boa moça ou ele vinha de boas famílias trabalhadoras. O Portugal em que hoje vivemos e em que as pessoas dizem ter liberdade de escolha e casam por amor é o mesmo Portugal que surge nas estatísticas de 1 divórcio em cada 2 casamentos, ou seja, temos uma taxa de divórcio de 50%, segundo um estudo sociológico de 2010.

É urgente refletir neste paradigma. O que pode levar alguém a casar-se para algum tempo depois se separar? Muitos dirão que é a “vida de hoje”, o “não haver tempo”, as exigências do mundo laboral, e outras tantas desculpas que não respondem à questão fundamental. Se abrirmos uma revista de economia aparecem homens de negócios dando entrevistas e a dizer que a família é o maior bem que possuem. No entanto, são estes mesmos homens os que comem ao lado de uma mulher ou família sem abrirem a boca nem se quer para perguntar se a comida está boa.

Chego à conclusão que nos dias que correm ter família é mais um fator psicológico de estabilidade do que o valor incutido há uns anos atrás, quando a família era o seio do nosso desenvolvimento pessoal e social. Hoje, as pessoas vivem tão alheadas de si mesmas que o casamento e a constituição de família é mais uma das muitas coisas que se têm que fazer enquanto cá andamos. Não há tempo para se refletir no propósito do casamento.

Anda meio mundo à procura de alguém com quem casar e ser feliz. Muito bem, estou de acordo. Mas arranjar alguém para partilhar esta aventura maravilhosa que é a vida não deveria ser um meio para se alcançar algo mais em vez de ser um fim em si mesmo? Quantos não são aqueles cujos único propósito na vida é encontrar o/a tal, casar, ter filhos e nada mais? O casamento é o maior reflexo do trabalho interior que temos de desenvolver. Espelhamos no outro aquilo que somos. E quando algo está mal, então, temos de nos virar para dentro e questionarmo-nos: o que é que se passa comigo? O que tenho de trabalhar? O que devo mudar? O objetivo é ter um casamento feliz e saudável em que ambas as partes crescem e se desenvolvem e alcançar a realização individual através de um trabalho conjunto. O que se observa é exatamente o contrário: as pessoas procuram alguém que as “possa aturar” e que “lhes dê aquilo que merecem”. Não será isto um amor egoísta? Ao ser egoísta não poderá ser amor. Então, o que será? Que relações cultivamos? Se somos livres porque temos relações infelizes? Casar? Para quê?

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