quinta-feira, 26 de maio de 2011

O SERVIÇO É UMA LEI

As portas do metropolitano fecham e a música começa. Um senhor com os seus quarenta (talvez cinquenta) e alguns anos, passeia pela carruagem com a sua concertina enquanto dá música aos passageiros. Indiferentes ao seu serviço, algumas pessoas protestam contra o que está a passar, criticando a sua forma de ganhar a vida, e olham com repugnância aqueles que colocam moedinhas na caixa que o músico traz a tiracolo.


Todos servimos. Todos nascemos para contribuirmos com algo para o engrandecimento do planeta Terra e da Humanidade. Há quem sinta vocação para tratar o corpo físico dos humanos, há aqueles que gostam de cuidar dos animais, há quem descubra plantas e minerais até então desconhecidos, outros que gostam de comunicar os acontecimentos, pessoas há que sentem aptidão para ensinar, um grupo de seres que trabalha para governar, uns gostam de fazer rir, outros despertam consciências e outros há que, inspirados pela beleza da vida, dão música. O certo é que cada um tem algo muito próprio que o distingue dos demais e é essa característica (ou várias) que deve desenvolver para não passar a vida em vão. Há muitos tipos de serviço. Um dos grandes desafios que temos nesta passagem terrena é descobrir qual a missão que trazemos nesta vida e pô-la em prática. Quando digo missão pode ser uma infinidade de coisas que, muitas vezes, não passam por um trabalho de segunda a sexta-feira, das nove às cinco. E porque não ganhar a vida com aquilo que nos dá prazer? Quantos frustrados não há porque fazem algo que não os preenche mas que o têm de fazer para chegar ao fim do mês e ganhar uns tostões? Se cada um de nós fizesse aquilo que realmente gosta seríamos certamente pessoas muito mais felizes. O que acontece é que quando somos crianças e nos perguntam: “o que queres ser quando fores grande?”, respondemos: “professora, bombeiro, polícia, escritora, cabeleireira”, “isso não dá nada; tens de ser médico, advogado, engenheiro, algo que te dê muito dinheiro e teres uma boa vida”. E assim, somos formatados para pensar que temos de estudar algo que nos garanta um salário ao fim do mês, mesmo que para tal tenhamos de fazer algo com o qual não nos identificamos. Bem, façamos o que façamos, façamo-lo com amor, pois todo o trabalho desde que sério e honesto, é um meio de servir. E o Serviço é uma lei cósmica. Todos temos de servir para um bem maior, todos devemos contribuir para um bem geral. O que contribui aquele que está em casa, sentado no sofá a ver novelas ou futebol e que não faz nada de útil? Que serviço presta aquela que passa a vida na rua a criticar os que dispõem do seu precioso tempo para cumprir a sua missão? A esses é-lhes dado um vazio interior, algo que os enche de infelicidade e frustação. E agora perguntam: “e os sem-abrigo e aqueles que não fazem nada e andam sempre a pedir esmola?”. Esses também cumprem a lei do serviço na medida em que lembram, a quem pedem, uma outra grande lei cósmica: a lei do dar. Quem mais dá, mais recebe. Aquele que nada dá, nada recebe. Quantos é que sabem disto? Quantos é que pensam nisto? No universo nada se perde. Tudo o que vai, volta a multiplicar. Há seres que aparecem na nossa vida só para nos recordar destes pequenos pormenores que muitos vão esquecendo. Enfim, é o seu Serviço.


Põe quanto És no Mínimo que FazesPara ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis, in "Odes"

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