Atrevo-me a dizer que o dinheiro e os relacionamentos humanos são as maiores provas que temos de passar durante a nossa existência terrestre.
O Homem é um ser sociável. Precisa de viver em sociedade, assim como a sociedade precisa dele. Aprendemos uns com os outros e aprende-se a viver nas pequenas provas do dia-a-dia. Daí surge a importância de desmistificar a espiritualidade. Alguém que se isola do mundo, que passa anos fechado num convento, num mosteiro ou numa casa no topo da montanha, jamais pode evoluir espiritualmente. A solidão é importante e essencial para nos encontrarmos com nós mesmos, para meditarmos e refletirmos. Mas a evolução espiritual só se dá praticando no dia-a-dia todos os ensinamentos adquiridos até então apenas em teoria.
Os relacionamentos humanos são das maiores provas que temos porque é algo que não depende exclusivamente de nós. Temos de moldar-nos aos demais, entendê-los, aprender o que temos de aprender e seguir em frente. Todas as pessoas que fazem parte da nossa vida, estão nela porque queremos, porque temos necessidade de aprender algo que elas têm para nos ensinar. Quando digo todas é realmente todas, desde os pais, irmãos, familiares, colegas de trabalho, amigos, a padeira, o varredor de ruas, o apresentador de televisão, o sem-abrigo, seja quem for. Mas o que é que o Manel da esquina que vejo todos os dias e a quem não digo mais do que “bom dia” pode ajudar-me a ser melhor pessoa? Observando-o, por certo, aprenderemos qual a sua atitude perante a vida. Observando o empregado de mesa que nos serve, sem fazer qualquer juízo de valor, apreendemos como será o seu historial de vida. Com as senhoras que passam o tempo na rua a falar da vida dos demais, aprendemos a Não-Ser. E no entanto, seja qual for a postura que têm na vida, todos eles são filhos de Deus e fazem parte da Criação. A diversidade é a unidade. Todos ocupam o seu lugar e todos estão no nível de consciência em que têm de estar, todos estão no seu caminho evolutivo.
Os conflitos dão-se quando as pessoas não têm a mesma perspectiva e querem levar a delas avante. O tempo ensinou-me que quando eu, com a melhor das intenções, falo de algo grandioso a alguém e esse alguém não me compreende e não concorda, o melhor a dizer é: “fica tu na tua que eu fico na minha”. Quando for o momento certo, essa pessoa há-de compreender o que quero dizer. Naquele momento, e para não entrar em choque com as crenças enraizados que cada um tem, o melhor é ficar por ali. Isso aprendi com o tempo. Também já fui uma pessoa amargurada com a vida, fatalista e que levava a mal o que me diziam. As pessoas só se magoam porque querem. Se a pessoa for forte e tiver consciência, nada do que lhe poderão dizer a poderá afetar. Um exemplo muito simples: uma pessoa que esteja sempre alegre não irá acreditar quando alguém lhe disser que é a pessoa mais pessimista do mundo. Da mesma forma, quando alguém nos chama a atenção por algo, ela pode dizer o que quiser. Cabe-nos a nós dar-lhe valor ou não. Claro está que não podemos ser soberbos ao ponto de não ouvirmos o que os outros têm para nos dizer, até porque, quando é uma crítica construtiva, pode ajudar-nos a refletir sobre algo que até então nunca tínhamos pensado e pode ajudar-nos a tomarmos consciência do trabalho que temos de desenvolver para nos aperfeiçoarmos. A consciência é o filtro que utilizamos para discernir a que devemos dar importância ou não.
Grandes mal-entendidos dão-se por não se separar a pessoa da atitude. As pessoas adaptam as atitudes perante as circunstâncias. A mesma pessoa, perante a mesma situação, pode ter atitudes tão diversas quanto o número de pessoas envolvidas e, no entanto, não deixa de ser a mesma pessoa. E essa mesma pessoa pode ter uma atitude hoje completamente diferente da que teve há um ano atrás, porque o ser humano é um ser mutável. As pessoas mudam porque são organismos vivos e não são como eram há vinte anos atrás. Por isso, cada dia é um novo dia e temos a oportunidade de sermos melhores a cada dia que passa.
Oiço pessoas a falarem de situações que se passaram há trinta, quarenta anos atrás e falam com um sentimento de ira e rancor como se tivessem acabado de viver a situação. Perdoa e esquece! Seja o que for que se tenha passado, aconteceu para nos fortificar. Ninguém tem uma prova que não consiga ultrapassar. Depois de vivida, há que refletir o que se aprendeu e deixar a experiência ir, não lhe dar importância e voltar a focar a atenção no momento presente, vivendo-o, experienciando-o. A experiência só deve ser relembrada quando for importante lembrar a lição que se tirou dali.
Esta é também a atitude a ter com as pessoas que passam no nosso caminho. Claro que há aqueles seres que fazem parte da nossa vida durante muito tempo, muitos anos e há um pequeno círculo que nos acompanhará a vida toda. Mas a maioria das pessoas que se cruzam connosco entram na nossa vida para nos ensinarem algo. Depois há que deixá-las partir, não criar apego. Somos seres autónomos. Não precisamos de ninguém em especial para vivermos. Só precisamos de um coração que, enquanto bater, nos dá vida.
Pessoas que não se vêm há “n” tempo quando se reencontram, comparam imediatamente com a pessoa que conhecerem há “n” tempo atrás e o comentário habitual é: “está tão diferente, nem parece a mesma!”. Pois, ainda bem que está diferente. Se para melhor ou pior, ninguém pode julgar, pois o que é melhor para uma pessoa pode não o ser para outra.
Todas as pessoas são únicas e especiais. E por muito que custe acreditar somos realmente irmãos uns dos outros e devemos amar-nos. Devemos amar o Ser que há em cada um. Quando se gosta da personalidade de alguém, então, há mais mínima mudança que haja, existe um desgosto que irá amargurar a vida de quem sofre e o relacionamento que se tinha com essa pessoa.
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