Numa das feiras de artigos em
segunda mão em que participo, conheci um senhor que, tal como eu, vendia livros usados.
- Livros do Paulo Coelho! Vendi
quatro esta semana. – disse-lhe.
- Paulo Coelho! – desdenhou – Já
não gosto da escrita dele, por isso é que estou a ver se me livro deles. Olhe,
é mais do mesmo e aquilo nem é carne nem é peixe. Ele usa passagens bíblicas e
lá pelo meio mete magia, feitiçaria, sei lá o quê mais, epá, olhe, a escrita
dele é muito gira para uma determinada fase da vida mas depois… Sabe, eu cá sou
cristão assumido, vou à igreja, tenho muita fé mas não sou como as outras
pessoas. Ontem, conheci uma pessoa que me disse que não ousava falar com Deus
porque Ele tem tantas pessoas para atender, que ela até se sente mal por incomodá-lo!
Então, essa pessoa é muito devota da imagem de uma Nossa Senhora de Não Sei O
Quê, já nem me recordo o nome que ela me disse, e é com essa imagem de madeira
que fala e a quem pede para interceder por ela junto de Deus. Epá, diga-me lá
se isto não é de doidos!
Ri-me perante aquela história e a
sua forma caricata de falar.
- Eu acho que toda a gente passa
a vida a buscar Deus sem se aperceberem que Ele está em todo o lado, está em
mim, está em si, está nestas pessoas todas, e quando me falam em Amor de Deus,
em pergunto-lhes: ‘mas o que é o Amor de Deus?’. Sabe o que é que para mim é o
Amor de Deus? É amarmo-nos uns aos outros, ajudarmo-nos e vivermos todos
felizes. O Amor de Deus não é algo utópico, é algo bem palpável. Não sei se já
deu para reparar que eu sou um tipo fora do normal.
Nas suas palavras denotei alguma
soberbia, e logo uma vozinha interior me puxou as orelhas pela minha análise
crítica (é um hábito de uma vida inteira, que por muito que o trabalhe, volta
não volta, escapa de tão corriqueiro que é na sociedade atual).
- A sério, que sou. Eu tenho
muita fé, sou um homem de fé e para mim só há um livro na vida: a Bíblia. Não
me falem de outros livros, que para mim são tretas. A Bíblia é o único livro válido
à face da Terra. É o único livro que leio e tem ali tudo o que é preciso para
vivermos condignamente no Amor de Deus. Mais uma vez lhe digo, que o nosso
maior trabalho é amarmo-nos uns aos outros e todas as passagens bíblicas são
para nos mostrar isso.
Pedi-lhe que me acompanhasse até
à minha banca para lhe mostrar os livros que tinha à venda.
- Este é do Osho, conhece?
- Não, não estou a ver. Esse nome
nem me diz nada.
Abri-lhe o livro e logo na
primeira página estava a foto mais conhecida do sábio: barba comprida e gorro
na cabeça.
- É um sábio indiano muito
conhecido no mundo todo.
- Indiano? – questionou com
desprezo – Odeio indianos, nem os posso ver à frente.
Olhei-o na expectativa de ver se
se redimia do comentário feito, mas em vão.
Numa só frase contradisse todo o seu
discurso anterior… sem se aperceber.
Uma história que dá que pensar,
hem?
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