quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

UMA HISTÓRIA QUE DÁ QUE PENSAR

Numa das feiras de artigos em segunda mão em que participo, conheci um senhor que, tal como eu, vendia livros usados.
- Livros do Paulo Coelho! Vendi quatro esta semana. – disse-lhe.
- Paulo Coelho! – desdenhou – Já não gosto da escrita dele, por isso é que estou a ver se me livro deles. Olhe, é mais do mesmo e aquilo nem é carne nem é peixe. Ele usa passagens bíblicas e lá pelo meio mete magia, feitiçaria, sei lá o quê mais, epá, olhe, a escrita dele é muito gira para uma determinada fase da vida mas depois… Sabe, eu cá sou cristão assumido, vou à igreja, tenho muita fé mas não sou como as outras pessoas. Ontem, conheci uma pessoa que me disse que não ousava falar com Deus porque Ele tem tantas pessoas para atender, que ela até se sente mal por incomodá-lo! Então, essa pessoa é muito devota da imagem de uma Nossa Senhora de Não Sei O Quê, já nem me recordo o nome que ela me disse, e é com essa imagem de madeira que fala e a quem pede para interceder por ela junto de Deus. Epá, diga-me lá se isto não é de doidos!
Ri-me perante aquela história e a sua forma caricata de falar.
- Eu acho que toda a gente passa a vida a buscar Deus sem se aperceberem que Ele está em todo o lado, está em mim, está em si, está nestas pessoas todas, e quando me falam em Amor de Deus, em pergunto-lhes: ‘mas o que é o Amor de Deus?’. Sabe o que é que para mim é o Amor de Deus? É amarmo-nos uns aos outros, ajudarmo-nos e vivermos todos felizes. O Amor de Deus não é algo utópico, é algo bem palpável. Não sei se já deu para reparar que eu sou um tipo fora do normal.
Nas suas palavras denotei alguma soberbia, e logo uma vozinha interior me puxou as orelhas pela minha análise crítica (é um hábito de uma vida inteira, que por muito que o trabalhe, volta não volta, escapa de tão corriqueiro que é na sociedade atual).
- A sério, que sou. Eu tenho muita fé, sou um homem de fé e para mim só há um livro na vida: a Bíblia. Não me falem de outros livros, que para mim são tretas. A Bíblia é o único livro válido à face da Terra. É o único livro que leio e tem ali tudo o que é preciso para vivermos condignamente no Amor de Deus. Mais uma vez lhe digo, que o nosso maior trabalho é amarmo-nos uns aos outros e todas as passagens bíblicas são para nos mostrar isso.
Pedi-lhe que me acompanhasse até à minha banca para lhe mostrar os livros que tinha à venda.
- Este é do Osho, conhece?
- Não, não estou a ver. Esse nome nem me diz nada.
Abri-lhe o livro e logo na primeira página estava a foto mais conhecida do sábio: barba comprida e gorro na cabeça.
- É um sábio indiano muito conhecido no mundo todo.
- Indiano? – questionou com desprezo – Odeio indianos, nem os posso ver à frente.
Olhei-o na expectativa de ver se se redimia do comentário feito, mas em vão.
Numa só frase contradisse todo o seu discurso anterior… sem se aperceber.

Uma história que dá que pensar, hem?   

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