Confesso que fiquei um bocadinho
triste ao ler o artigo em que Alexandre Duarte chama, aos jovens da minha
idade, geração “encalhada”: http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/10764/gerac-o-quotencalhadaquot.
Não me revejo nas suas palavras mas tenho plena noção que a descrição que faz
dos jovens dos vintes anos é infelizmente a generalidade. E não só dos vintes
mas também dos adolescentes e, nalguns casos, dos trintas.
Sempre gostei de estudar, mais
pelo gosto de aprender e conhecer o mundo do que associar o estudo a um futuro melhor.
E o certo é que, mesmo depois de ter deixado o ensino oficial há seis anos,
continuo ávida de conhecimento. Frequento cursos e workshops, leio livros e sim, utilizo, e muito, as redes sociais,
nomeadamente o Facebook. Sigo páginas dos mais diversos temas e, sempre que vou
facebookar acabo por aprender alguma
coisa. Publico pouco da minha vida mas gosto de ler os comentários dos amigos e
ver as fotos que colocam, mas tudo q.b.. É me inconcebível pensar viver para os
mexericos, os gostos e as fotos! E mais inacreditável é pensar que os jovens
preferem gastar o tempo neste hobbie
do que investirem-no nos estudos e nas aprendizagens seja do que for que lhes seja
útil para a vida.
Penso que cabe aos pais, e a
todos aqueles que têm contacto com os jovens, aliciá-los ao estudo, ao gosto de
descobrir os mistérios da vida, de compreender a mensagem por trás das
palavras, de partir à descoberta de novas técnicas científicas ou digitais ou tecnológicas
ou outra coisa qualquer que possam melhorar o nosso dia-a-dia. Não sou mãe mas
o contacto diário com uma menina de treze anos ensina-me a perceber o que vai
naquelas cabecitas. “Não gosto de História.”, “É tão giro descobrirmos como é
que chegámos até aqui!”. “Tenho muita coisa para decorar a Geografia.”, “Vamos
lá ao Google pesquisar exemplos do que estás a estudar.”. “A professora de
Matemática não ensina nada de jeito.”, “Então, falem com ela e digam-lhe que a
metodologia que está a utilizar não é a mais adequada e dêem-lhe sugestões de
como ensinar melhor a matéria.” Quando algo não corre como esperado, evito
solidarizar-me com a vitimização e questiono-a do motivo do aparente fracasso e
juntas tentamos encontrar uma solução para futuros cenários semelhantes. Não
sou mãe, ainda não li livros de educação de crianças e de jovens, mas tento
incutir-lhe o gosto que tenho pelo saber.
Não é fácil ser-se jovem nos dias
de hoje. Era tão mais fácil ter-se vintes há vinte ou trinta anos atrás, quando
o futuro convidava a estudar e a trabalhar recompensando os estudiosos e os trabalhadores!
Hoje, o amanhã é uma incógnita e a sociedade e a conjuntura atual dizimam os
sonhos de um futuro risonho. Parece um contra-senso a descrição da geração
“encalhada” com o que se diz sobre as crianças e os jovens da Nova Era. Escrevem-se
livros, fazem-se seminários, fala-se até à exaustão das crianças índigo e
crianças cristal que vêm para revolucionar o mundo com a sua nova energia… Mas
onde estão essas mudanças? Fico sempre chocada quando pais e avós
desculpabilizam filhos e netos alegando que são da Nova Era. “Chamou estúpida à
professora porque ele veio para revolucionar o sistema”, “não pára quieta um
minuto porque tem muita energia cristal”, “não se interessam pela escola porque
não responde às necessidades que os miúdos têm”… !!! E de desculpa em desculpa
vão perdoando todos os feitos dos pequenos, culpando o governo, a crise e o
mundo por não lhes dar as oportunidades que eles precisam para se tornarem
responsáveis. Estudos nunca fizeram mal a ninguém. Não cabe exclusivamente aos
professores motivar os mais novos para a disciplina ou para a matéria. Os pais
e todos aqueles que fazem parte do dia-a-dia das crianças e dos jovens têm o
dever de estimular o gosto pelas aprendizagens e devem-lhes dar as bases para
que se formem enquanto cidadãos íntegros e prestáveis à sociedade.
Os jovens deste início do século
XXI têm agora mais acesso a informação do que qualquer outra geração teve. E
sim, estes jovens vieram com outra energia, mas de pouco serve terem o
potencial se não o passarem a efetivo. Eles são imaturos em relação à vida e
precisam de alguém (de preferência mais do que uma pessoa) que os encaminhe de
forma a utilizarem todos os recursos disponíveis para bem deles e depois para
bem dos outros.
Eu acredito que é possível
fazermos melhor. Eu acredito no potencial dos jovens. Eu acredito no futuro.
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