“A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.”
(Carlos Drumond de Andrade)
Hoje escrevo com uma profunda dor de alma. Dor provocada por uma observação contínua de hábitos e costumes de pessoas que já não via há muito tempo e que, agora, tenho oportunidade de rever. Pessoas essas que fizeram parte da minha vida durante algum tempo. Umas durante alguns dias, outras meses e algumas até anos. Por escolhas de vida, tanto minhas como delas, deixei de as ver. Tenho agora oportunidade de rever e anotar as diferenças.
E é isso que magoa, que dói no interior, uma dor profunda como há muito não sentia. Dói ver o estado em que está mergulhada a humanidade. Vejo uma amostra da humanidade mas revejo nestas pessoas a complexidade do (muito) trabalho que há para fazer a nível de reprogramações a todos os níveis possíveis e imagináveis.
Chego ao pé de alguém com um sorriso nos lábios e digo: “olá! como estás?” e, se pudesse condensar todas as respostas que oiço numa só, seria: “eh, vamos indo, umas vezes pior, umas vezes melhor, mas olha, temos de ir. A vida é mesmo assim mas olha, isto está tudo tão mal!” e começam a pôr-me a par de todas as “desgraças” que lhes aconteceram desde a última vez que nos vimos. Oiço sem fazer qualquer juízo de valor, apenas imaginando como teriam sido as suas “catástrofes”. Quando termina o rol de notícias, perguntam-me: “e tu, como estás?”, “sempre muito bem”, respondo alegremente, “impossível! Nunca se está sempre muito bem. Há alturas em que estamos bem e alturas em que estamos mal”.
Dá dor olhar para as pessoas e ver que estagnaram no tempo. Têm a mesma postura, a mesma mentalidade, as mesmas conversas, os mesmos hábitos que tinham há anos. Os jovens, esses ainda dão mais dor. Um por outro desvia-se da norma, mas se pudesse criar categorias, estas seriam:
- os jovens que partiram da terra de origem, para estudar e/ou para trabalhar, e que vêm “distantes”: ou com muita intelectualidade ou com a postura de emigrante que se esquece de viver durante 11 meses para viver o sagrado mês de Agosto em Portugal;
- os jovens que não saíram e que se conformaram com as fracas oportunidades existentes num pequeno concelho do interior do país; estes têm o mesmo círculo de amigos de há anos, repetem agora a mesma vida que os pais tinham, deixaram de lado os sonhos que tinham há uns anos para “olha, ponho-me a pensar e é melhor ficar por aqui; ao menos aqui uma pessoa já sabe com o que conta”.
Não quero dizer que são todos iguais porque, felizmente, há aqueles que melhoraram bastante com o tempo. Falo da maioria, a maioria que representa o estado geral da sociedade.
Quando vinha esporadicamente tinha uma ideia do estado que aqui dominava. Agora, tenho a possibilidade de estar durante mais tempo e ter a confirmação da ideia que levava quando partia. Sempre que saía destas terras, um estado de melancolia invadia-me por minutos e agradecia a Deus ter tido a oportunidade de, ao longo do caminho, ter-me posto as pessoas certas nos momentos certos que me ensinaram a ver a vida de outra forma, uma vida autêntica, diferente da vida dos demais. Eu sou privilegiada por ter uma postura na vida muito diferente da maioria. Eu sou a liberdade suprema porque a mim, ninguém me pode prender a uma vida comum. Jamais. Os outros podem não entender a minha postura, a minha maneira de ser, ver e sentir a vida, podem até criticar, julgar e condenar mas eu entendo o facto de eles não me entenderem. Já eles não me entendem porque eu não estou dentro dos parâmetros que eles dão como “normais” no conceito deles. Aos “eles e elas” que me aparecem no caminho, agradeço do fundo do coração, por me ensinarem o que eu não sou, por me fazerem compreender a complexidade do ser humano e por me ajudarem a ser cada vez mais e melhor.
Isto foi só um desabafo.
Sem comentários:
Enviar um comentário