quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DESMISTIFICAR A ESPIRITUALIDADE

De todos os artigos que escrevi até hoje, este é talvez o mais controverso, pois vai contra as crenças fortemente enraizadas no consciente coletivo. Somos filhos de uma programação incutida na sociedade onde estamos inseridos. Passamos uma vida inteira a darmos algo como certo e quando alguém nos apresenta uma visão diferente acerca da nossa realidade, temos duas opções: ou aceitamos o outro modo de ver as coisas ou pura e simplesmente fechamo-nos. A todo o instante e momento recebemos “n” estímulos provenientes do exterior. Esses estímulos sensoriais são qualificados consoante as experiências passadas nos vários domínios da nossa vida (família, trabalho, lazer, cultura…) e que fazem parte das nossas crenças. Consoante essas programações, assim moldamos a nossa vida. No entanto, quando estamos receptivos a outras visões/opiniões, aceitamos, compreendemo-las e encaixamo-las no nosso íntimo, dando autorização para que essa experiência passe a fazer parte de nós. É o que chamamos uma mente aberta. Pelo contrário se aquilo que recebemos não se encaixa no nosso mundo, automaticamente fechamos a nossa mente, rejeitando outra perspetiva sobre algo que damos como certo somente à nossa maneira.

O propósito deste artigo é fazer refletir sobre alguns aspetos erróneos que se tem acerca da espiritualidade. Lê. Não julgues, não condenes, não critiques. Dá tempo ao tempo. O que hoje não compreendes e não aceitas, pode ser que amanhã, numa determinada situação, te faça sentido.

Ponto n.º 1: somos seres espirituais. Somos espíritos encarnados num corpo físico. Esta é uma verdade inegável, aceite-se ou não se aceite, compreenda-se ou não se compreenda. O ser humano está tão preso a este mundo de fascinação regido pelos cinco sentidos que não se dá tempo para partir numa viagem de auto-descoberta. Muita gente pensa que é num templo no cimo de uma montanha ou numa viagem a um qualquer país subdesenvolvido que vai encontrar a espiritualidade, que vai saber quem é e qual o propósito da sua existência. Pois eu digo que não é preciso procurar fora o que está dentro. Em vez de ires um mês para um qualquer lugar longínquo, dá-te uma hora por dia para meditares e encontrares o que procuras.

Ponto n.º 2: a espiritualidade não é para relaxar. Muita gente pensa que é fazendo yoga num ginásio, que acaba com um exercício de relaxamento, que encontra a espiritualidade através do equilíbrio corpo-mente-espírito. Hoje, este termo tornou-se tão banalizado em várias modalidade físicas que as mentes menos informadas tendem a associar esse tipo de exercícios a algo que pouco tem a ver com o que é realmente a espiritualidade. Se gostas de exercícios de relaxamento, de ir a um SPA, de estares numa casa construída com base no feng shui, ótimo. Eu também. Mas isso não é nenhum caminho espiritual.

Ponto n.º 3: as pessoas espirituais não têm que andar vestidas de branco forçosamente. O branco é a cor da pureza, da iluminação, da ascensão. O branco contém em si todas as outras cores. No entanto, não é necessário andar-se sempre vestido de branco ou com roupas estilo hippie. Somos seres espirituais. As cores que usamos são indiferentes para o nosso espírito. Isso nada tem a ver com a tua evolução espiritual. A influência das cores é uma verdade. A cromoterapia é boa. Que cada cor tem uma simbologia também é verdade. No entanto, sê livre. Usa a cor que quiseres. O que interessa é a tua consciência.

Ponto n.º 4: a espiritualidade é para ser vivida no mundo moderno. Este é um dos pontos mais marcados para a maioria das pessoas, incluindo estudantes de várias escolas espirituais. No imaginário coletivo temos os frades, monges, freiras, santos, que se exilavam do mundo, vivendo em mosteiros ou numa cabana no topo de uma montanha. Isso é uma ideia da Era de Peixes. Vivemos tempos da Era de Aquário. Hoje, a espiritualidade é para ser vivida. Que ninguém pense que ir ao shopping é mau, sair à noite é mau, ver futebol é coisa do diabo, divertir-se não é nada espiritual. Nada disso. Hoje, o verdadeiro estudante de Sabedoria Divina tem e deve viver no mundo moderno, trabalhar, sociabilizar, sair, ir às compras, fazer uma vida perfeitamente comum. O que nos diferencia dos restantes é a nossa consciência. Tendo-a podemos ir a qualquer lugar, fazer qualquer coisa, estar seja com que for, que nada nos abana. Tudo são experiências. Se não é no mundo que vamos ter essas experiências, no contacto com os demais seres, não será certamente exilado numa cabana no topo da montanha que as iremos ter. O ser humano foi feito para viver em sociedade.

Ponto n.º 5: o ser espiritual vê televisão, ouve as notícias e usa a internet. Acorda! Estamos no mundo mas não somos do mundo. No entanto, temos que saber do mundo. A Terra é a nossa casa. Temos o dever de a cuidar e de a estimar. Temos igualmente a obrigação de saber o que se passa nos vários cantos do mundo. Devemos ver como estão a ser jogadas as peças no tabuleiro do xadrez. É fundamental estarmos atualizados para a realidade que outros irmãos vivem. Tudo tem que ser gerido com equilíbrio. Ver televisão, utilizar a internet ou até mesmo usar o Facebook não é mau e não é por não se ver televisão que se é mais ou menos espiritual. Há de tudo. A vida é feita de escolhas. Os programas de televisão, o que pesquisas na internet são da tua responsabilidade. Ninguém te obriga a ver ou a ler “lixo”. Tu tens o poder de escolher. Tudo q.b., claro está.

Ponto n.º 6: a alimentação vegetariana é uma opção de vida mas que não tem a ver com a espiritualidade. É uma verdade que os alimentos provêm-nos de vida e que consoante a qualidade do alimento que ingerimos assim é a nossa espiritualidade. No entanto, como em tudo há que haver equilíbrio. A carne, o peixe, os doces, o fast food estão à nossa disposição. Assim, devem fazer parte da nossa alimentação na medida certa. Mais uma vez, o que está em jogo é a consciência da pessoa. As frutas e os legumes, os alimentos naturais e biológicos, em geral, estão providos de mais shakti potencial (consciência crística) do que os alimentos processados. No entanto, se não houver mais nada para comer ou se formos convidados para algo em que nos dêem determinado alimento menos saudável, devemos desfrutá-los na mesma, abençoa-lo e agradecer a Deus por o termos à nossa disposição.

Ponto n.º 7: a espiritualidade não é pobreza. Caiam os dogmas da igreja católica, do hinduísmo e de todas as escolas e religiões que dizem que para atingir a espiritualidade só se pode se se viver na pobreza. É das maiores mentiras que pregaram ao Homem para o escravizarem. Se o Homem foi feito à imagem e semelhança de Deus e se Deus é todo poderoso, omnipotente, dono de todas a riquezas do universo, porque há-de ser o ser humano um pobre materialmente para ser rico em espírito? O nível de consciência está proporcionalmente ligado ao nível de riqueza. A questão está no desapego. Enquanto o ser humano inconsciente vive para ter e assim sentir-se seguro com as suas coisas, o verdadeiro mestre espiritual pode ter tudo e ser livre. Tudo e todos estão à nossa disposição para nos servir. O serviço é uma lei. Devemos usar tudo sem nos apegarmos. Estamos aqui só de passagem. Tudo serve para termos as experiências que precisamos para crescer e evoluir. Quanto mais dinheiro e riqueza, maior facilidade em usufruir de certas experiências e conhecimentos que só se têm pagando o seu devido preço.

Ponto n.º 8: o conhecimento espiritual tem um preço em dinheiro. Nada no universo é grátis. Tudo tem um preço. Tal como pagas para ires à universidade tirar um curso que te abrirá às portas a uma vida melhor, também a espiritualidade deve ser paga pois só assim se lhe dá a devida importância. Se queres ser livre, se queres aprender a ser sempre feliz, paga. Essa conversa que não se deve cobrar dinheiro pelo conhecimento porque estamos a trabalhar com energia é estupidez e só demonstra ignorância. Queres aprender algo tens que pagar. Já pensaste porque é que na Antiguidade, a Sabedoria Divina só era direito das hierarquias superiores (clero, faraós, imperadores, …)?

Ponto n.º9: o corpo físico é a casa do deus vivente; cuida dele. Jamais podemos dissociar o corpo físico do espírito, pois este reside no primeiro. O corpo físico é de todos os sete corpos o mais denso e também ele deve ser purificado, pois é a manifestação mais visível do deus vivente que nele habita. O corpo deve estar limpo, saudável, em perfeitas condições de utilização. Da mesma forma, as roupas que usamos devem estar limpas e utilizáveis. Mais uma vez digo que não é por se vestir trajes hippies e malcheirosos que se é mais ou menos espiritual.

Ponto n.º 10: o sexo é divino. Deixei este tema para último ponto pois de todos é o mais controverso. Na vida há duas opções: se vês algo como bom, perfeito, divino, assim é; se olhas imperfeição, maldade, se vês o mundo diabólico, assim é a tua realidade. Tu escolhes como queres encarar a vida. Se vês o sexo como algo divino, como um ato físico em que duas almas se fundem e trabalham com a energia do amor, essa é a tua realidade. No entanto, se preferes continuar com a mente cheia de lixo acerca do sexo porque desde pequeno/a te dizem que o sexo é fruto do diabo, é mau, é algo vergonhoso, muito bem, essa também é a tua verdade, a tua realidade. Resta saber se te queres libertar de todas essas programações mentais que te atam ao sofrimento ou se preferes fazer um esforço consciente para te reprogramares e veres tudo com outros olhos. Se não precisássemos da energia sexual, porque é que Deus criou homens e mulheres com órgãos sexuais diferentes? Se não fosse pelo sexo tu não estavas aqui neste mundo. Se o homem não precisasse da mulher, nem a mulher do homem, então haveria só mulheres ou só homens. No entanto, essa energia suprema que tudo criou fez questão de distinguir bem o homem da mulher.

Tudo na vida é para ser refletido. O Mestre Jesus diz que o ser humano comum é uma cópia de outras cópias. Quem não tem poder para refletir e ver mais além, continuará a ser escravo do que nos tentam fazer ver como realidade e que na verdade é pura ilusão. Controlas a tua mente, a tua vida e o teu mundo, ou és controlado pelas ideias alheias?

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