Aproximamo-nos aos poucos do dia de Natal. Por todo o lado, luzinhas a acender e a apagar, decoração alusiva a esta quadra, corridas às compras, música ambiente própria desta altura, lembram-nos que estamos a alguns dias da maior festa do ano. No entanto, preocupadas com os cortes nos salários e nos subsídios, a diminuição do poder de compra, o aumento dos preços, e mais uma panóplia de coisas, as pessoas, em geral, não refletem seriamente neste grandioso acontecimento cósmico. Sim, o Natal jamais pode ser a festa de uma só religião porque trata-se de um acontecimento ímpar no Cosmos Infinito e não pode ser exclusivo de meia dúzia de seres humanos.
Há quatro alturas no ano, em que a Terra recebe uma quantidade de energias cósmicas superior aos dias comuns. São elas o equinócio da primavera, o solstício de verão, o equinócio de outono e o solstício de inverno. Estas são alturas em que, quem estiver devidamente alinhado, pode canalizar energias cósmicas de grande vibração energética que pode ajudar no seu desenvolvimento pessoal e espiritual.
Não irei aqui debater a questão se Jesus, a maior consciência que passou pelo planeta Terra, com o nome Jhasua Ben Pandira, nasceu ou não a 25 de Dezembro. Isso é um facto de menor importância comparado com o simbolismo místico do Natal. No entanto, por alguma coisa o Natal ocorre no inverno, altura ideal para o recolhimento, para a introspeção, para a meditação porque só no interior de cada um é que se vai dar o Natal.
Comecemos pelo nome “Natal” que quer dizer “nascimento”. A questão é: que nascimento? “O Natal é sempre que um Homem quiser” é uma frase batida que já caiu de tal forma na banalidade que ninguém lhe liga. Todos nós já tivemos o nosso nascimento físico. Somos espíritos encarnados num corpo físico. Saímos da barriga de uma mulher, num determinado dia, num certo local e passámos a viver num mundo caracterizado pela matéria. Esse mundo de ilusão, baseado nos cinco sentidos, fez-nos esquecer de quem nós realmente somos: espíritos em essência, deuses em potência. Assim, há que dar-se o segundo nascimento, aquilo que a Bíblia aponta como a segunda vinda de Cristo, mas que o ser humano, na sua ignorância, não compreende, esperando a vinda de um Messias, um homem num corpo físico que irá salvar a humanidade. Ninguém virá salvar a humanidade. A humanidade terá de se salvar por si mesma e isso só o conseguirá quando todos os homens e mulheres tomarem consciência de quem são e se tornarem responsáveis conscientemente pelas suas vidas. Assim, o Natal representa o nascimento da consciência crística em cada homem/mulher. Jesus não nasceu Cristo mas tornou-se Cristo. Ele nasceu como uma criança normal, teve uma vida normal, passou por provações e ultrapassou-as através da compreensão e do amor, tornando-se um com a sua divindade, cristificando-se com o seu sétimo corpo, o corpo do espírito.
Assim como a mulher está nove meses grávida, preparando a chegada desse ser, assim é o Advento, um período de preparação para a chegada da divindade, isto é, todo o trabalho realizado para chegarmos até à compreensão e aceitação plena da nossa essência divina.
Passemos à simbologia do presépio.
O menino, que representa a divindade presente em cada ser humano, nasceu num estábulo. Este representa o corpo físico, ou seja, a divindade encontra-se no corpo físico. E nasceu numa manjedoura que, por sua vez, simboliza as dificuldades pelas quais temos de passar para chegarmos à luz, pois só com a dor é que se procura o sentido da vida. Que caiam os dogmas da Igreja Católica. Maria e José eram grandes Iniciados, seres que se prepararam para serem pais de uma grande consciência que vinha com uma missão específica. Maria era virgem sim, antes, durante e depois de dar à luz porque a virgindade tem a ver com a pureza de coração. Maria recebeu o Espírito Santo (ens seminis) no ato sexual que teve com José. A Mãe Maria representa o princípio feminino e o Pai José o princípio masculino (lei universal do género) pelo que se dá a criação seja do que for. Maria representa o amor e José o intelecto que, trabalhando em conjunto, operam milagres. Maria representa a Terra e José o Céu, o mesmo é dizer que a Virgem simboliza a matéria e o Pai simboliza o Espírito. A palavra “mãe” provém de “matéria” e, por isso, em todas as grandes religiões, civilizações, culturas, sempre houve uma mãe universal (Maria, Durga, Ísis, Baal, Ixchel, Dana…) de onde tudo proveio.
Ora, em cima do presépio está a estrela que brilha intensamente e incessantemente. A estrela representa o nosso sétimo corpo, o corpo do Eu Sou, o corpo do espírito. Ela está ali constantemente e nada a pára, nada lhe tira o brilha. A estrela é uma realidade e está por cima de cada um de nós. No mesmo estábulo encontram-se a vaca e o burro. A vaca simboliza a energia sexual e o burro a personalidade, as debilidades humanas, a mente. Aparentemente parece contraditório como é que estes dois aspectos mundanos encontram-se no presépio mas ambos estavam calmos e a aquecer o menino com os seus bafos. Quer isto dizer que tanto a sensualidade como a personalidade, devidamente domesticadas, podem trabalhar a favor da divindade, ajudando-a a viver com a sua respiração da vida.
Os três reis magos (Pai, Filho e Espírito Santo, as três forças primárias) seguiram a estrela e chegaram ao menino. Foram depois avisados que não podiam voltar pelo mesmo caminho para não encontrarem Herodes (as dificuldades, o mundo, as trevas, que querem matar o menino), o que nos diz que depois de encontrarmos o divino em nós não podemos continuar pelo mesmo caminho, temos de mudar de direção. Os três foram chamados a inclinarem-se perante o menino, louvando-o e trazendo-lhe presentes: o ouro tem a cor dourada da sabedoria e quer dizer que o divino é rei, o incenso está ligado ao coração e ao amor e está intimamente relacionado com a religião (religar a Deus) e a mirra é o símbolo da imortalidade já que era utilizada para embalsamar os corpos, preservando-os da destruição.
Os anjos, que estão ao serviço da divindade presente em cada homem/mulher, apareceram aos pastores, dando-lhes a boa nova. Os pastores são aqueles que já estão preparados para receberem essa graça e que pegam nas suas riquezas, aqui representadas pelas ovelhas e cães, para irem adorar o menino e porem-se ao serviço d´Ele.
O nascimento é um facto único no universo, no entanto, é só isso mesmo: um nascimento. Depois de nascer, a criança tem de crescer saudavelmente, contando para tal com todo o cuidado dos seus progenitores.
Façamos nascer em nós a criança que está cá dentro e que pede desesperadamente para a darmos à luz. Ela quer exprimir-se, quer estar presente em cada ato do nosso dia-a-dia. Essa criança precisa de muito amor, precisa que a façamos sentir forte, confortável e acarinhada.
Deus vivente, ama essa criança que está dentro de ti pois ela é a tua razão de ser e de existir.
Feliz Natal!
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