quinta-feira, 17 de maio de 2012

SEITAS


Perdoem-me mas hoje quero falar de seitas, pois devorei o livro “Os novos movimentos religiosos”, de José Luis Vásquez Borau, enquanto o diabo esfrega um olho :) Este doutorado em Filosofia e licenciado em Teologia Moral, apresenta de uma forma simples e direta os novos movimentos religiosos (NMR) ou seitas.

Segundo o autor, vivemos tempos de “ressurgimento das religiões, mas de uma forma algo caótica: mistura-se todo o tipo de espiritualismos, meditações orientais, psicoterapias e dietas de emagrecimento, moldando-se uma espécie de conglomerado confuso que é importante clarificar”. Cada vez há mais escolas filosóficas e espirituais que, pregando o que denominam de sabedoria divina, trabalham apenas um determinado aspeto da espiritualidade ou, pelo contrário, são uma súmula de várias correntes ideológicas.

O termo “seita”, ao contrário do que se pensa, não é bom nem é mau. São Paulo foi líder da «seita dos Nazarenos». Uma seita é um grupo de pessoas que se separa de um grupo maior para viver a sua própria ideologia. “O problema surge quando, no interior desse grupo (…) «existe destruição e manipulação das pessoas, das famílias e dos governos»”. (C. Vidal).

Tudo começa com um convite para uma aula ou meditação, quase sempre gratuita. O “anfitrião” apresenta-se como a “autoridade benevolente”, explicando a ideologia e as crenças do grupo, de uma forma parcial e superficial. Aqui chegado, o adepto é confrontado com técnicas de superação pessoal, de forma a trabalhar a sua auto-estima, e é incentivado a deixar morrer a sua personalidade antiga. Por norma, as pessoas com muitos problemas ou com uma ânsia muito grande de encontrar um rumo espiritual para a sua vida, são as mais fáceis de ludibriar. Passada esta fase, o adepto, ao ver a sua postura perante a vida a melhorar, identifica-se com o grupo e sente vontade em participar mais ativamente nas atividades deste. Por vezes, pode dar-se um ritual de iniciação em que é dado ao pretendente um nome espiritual para que haja um corte psicológico com a vida passada.

Ao dedicar a sua vida a este projeto ideológico, deixa de haver individualidade para passar a haver um pensamento e sentimento de grupo e é este que vai passar a atuar na vida do indivíduo. A “pressão do grupo” caracteriza-se por vários aspetos, nomeadamente a intromissão na vida pessoal de cada um, com a desculpa da preocupação ou sentimento de fraternidade. Perante um problema, pode pedir-se a vários elementos do grupo para darem o seu testemunho para que sirva de exemplo. Repetindo sistematicamente que a felicidade e a sabedoria só se encontram naquele grupo, não havendo mais sítio nenhum onde possam alcançar o nível de realização a que ali podem chegar, insiste-se na leitura de apenas um número reduzido de livros sagrados. Estes só podem ser interpretados consoante as crenças estipuladas nessa escola, não havendo lugar à verdadeira liberdade de expressão individual. Com as várias atividades realizadas, pretende-se que haja um afastamento da família, dos amigos, da vida social e, por vezes, até do trabalho, alegando que estes são um obstáculo ao crescimento espiritual e que são forças das trevas. 

Borau fala em “lavagem ao cérebro” para explicar como, muitas vezes, as pessoas, sem se aperceberem, adotam determinados comportamentos que refletem a mentalidade do grupo. A figura do líder representa a autoridade máxima, o exemplo a aspirar, levando à devoção, ao temor e à reverência dos seus seguidores. Intitulados de mestres, gurus ou xamãs, são as cabeças do projeto, que denominam de sagrado ou divino, e cabe-lhes a eles o rumo que aquelas pessoas tomarão. Ao dar-se-lhe toda a autoridade, tudo o que este disser é considerado uma verdade absoluta, que ninguém pode negar ou questionar. Há até grupos, onde se fazem sessões individuais de aconselhamento espiritual, para que os superiores saibam a vida e as inquietações dos adeptos. A “lavagem ao cérebro” dá-se de muitas formas, sendo que uma delas é a pregação do “não pensar”, ou seja, enquanto o líder fala, ninguém pode refletir no que este diz, aceitando assim tudo o que é dito. Desta forma, manipula-se a mente dos indivíduos, para que estes se comportem à medida dos interesses das cabeças do projeto. Não raras as vezes, há modificações no conceito de sexualidade, fazendo crer que o adultério não existe, e que, práticas sexuais como a poligamia, podem ser praticadas sem qualquer tabú. É do conhecimento geral que, ao longo da história, reis, gurus, mestres espirituais, aproveitaram-se da sua autoridade para conseguirem favores sexuais. Para a programação mental ser mais fácil, a alimentação praticada é pobre em proteínas e rica em hidratos de carbono e organizam-se atividades para levarem ao cansaço do grupo que, desta forma, deixa de ter defesas mentais. Depois de bem imbuídas as ideias que servem os interesses dos responsáveis, fazem-se pedidos constantes de dinheiro, chegando ao ponto de haver exploração laboral, alegando a necessidade de recursos financeiros para a concretização dos projetos do grupo. Depois de, numa fase inicial, se ter trabalhado a auto-estima do indivíduo, na fase da “lavagem do cérebro” dá-se o inverso, fazendo-se chantagem emocional e recorrendo-se, por vezes, a torturas, humilhações e enganos.

Raras são as vezes em que o adepto desperta do que lhe está a acontecer e sai por livre vontade. Muitas vezes são as famílias e os amigos que, vendo a degeneração a que o indivíduo está sujeito, o obrigam a sair, contra a sua vontade. Mas não é aqui que acaba a história, pois, para além de haver um corte com as pessoas do grupo, que são aconselhadas a não manterem contacto com o ex-colega porque este é uma má influência, pode haver utilização de magia negra contra a pessoa que saiu.      

Não é meu objetivo assustar ninguém com este artigo. Apenas gostaria que, quem o lesse, ficasse alerta para quando se deparar com situações semelhantes. Não vou dizer mal de nenhum grupo porque há de tudo e em todo o lado. Há ótimas pessoas em projetos medíocres e há seres espiritualmente pouco evoluídos em grandes escolas de luz. A máxima a adotar? «Pelos frutos, os conhecereis.»

Não há na Terra uma única escola que leve à libertação espiritual, pois todas as escolas são humanas. Há escolas com muito conhecimento e muita sabedoria e é a essas que devemos recorrer quando necessitamos. No entanto, estas apenas nos dão as bases, a teoria. Depois, cabe-nos a nós passar isso para a vida prática.

Já descobri por mim mesma que o único mestre que precisamos é o nosso mestre interior. Ele sabe o que é melhor para nós e qual o caminho a seguir. Não há um só caminho. Há muitos. Cada um tem o seu para trilhar. Cada um tem que viver as experiências que tem que viver para aprender e evoluir.

Boa caminhada!

2 comentários:

  1. Anónimo6/14/2012

    Um video que aconselho a todos:
    Prabhu Milan - Meeting God
    http://www.youtube.com/watch?v=5mpyLs3SnZ8

    Brahma Kumaris de Portugal
    (Instituição de solidariedade social sem fim lucrativos)
    http://www.bkwsu.org/portugal/index_html?set_language=pt-pt

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  2. Obrigada por partilhar estes links.

    Na verdade, a mensagem que consta no vídeo é aquela que pretendo transmitir através do artigo "ONDE ESTÁ DEUS?". Há um filme muito bom, que também aconselho, e que também aborda este tema: "STIGMATA".

    "Rachai um pedaço de madeira e lá estarei. Levantai uma pedra e lá me encontrareis."

    Namasté :)

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