Encontrei este poema que escrevi
há uns anos. Na altura, a poesia era a melhor forma de me expressar. Lembro-me de,
nesse dia, o meu pai contar-me que, um dia, o meu avô, que toda a vida foi
agricultor, revoltou-se contra o facto das pessoas estarem a abandonar as
terras e a fugirem para os meios urbanos para outros trabalhos que não os
agrícolas. Na altura, muito irritado disse que um dia haviam de querer comer e
iriam ter pedras!
É interessante reparar como os
tempos mudam. Hoje, a agricultura está na moda. Cada vez há mais cursos sobre
agricultura biológica, permacultura, hortas urbanas, os media propagam ideias
de jardins de ervas aromáticas em casa. Aos poucos, as populações estão a
voltar ao campo e crescem as escolas com cursos profissionais ligadas ao setor
primário. Vendo as coisas assim, podemos dizer que esta é uma das coisas boas
da “crise” que atravessamos.
Inspirada na revolta do meu avô,
escrevi este poema. Boa leitura!
Ó povo, não deixes a terra
Que é dela o teu viver
Não penses que são as fábricas
Que te irão dar de comer.
Corres, corres para a cidade
Dizes que é ela o teu futuro
Mas não penses que é a cidade
Que te dará fruto maduro.
Ó povo, não deixes a aldeia
Em busca do paraíso perdido
Não serás mais do que um
Num qualquer recanto escondido.
Deixa a terra secar
Por deixar de ter trabalho
Deixa o rebanho morrer
Ficarás sem agasalho.
Dizes ao teu filho, na creche
Que vais ganhar o tostão
Mas não semeies cereais
E não terás o pão.
Quererás comer e terás pedras
Por nada teres criado
Nada nasce sem semente,
Sol, trabalho e amor regado.
Vinhó - Gouveia (Serra da Estrela)
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